Eficácia de intervenções de neuromodulação espinhal para dor crônica

A dor persistente (crônica) é um problema comum que afeta pessoas de todas as classes sociais. Pode ser o resultado de uma ampla gama de condições médicas diferentes e às vezes não tem explicação, mas geralmente causa grande sofrimento, angústia e incapacidade e pode ter grandes impactos na qualidade de vida de uma pessoa.

As intervenções de neuromodulação espinhal implantada (implanted spinal neuromodulation [SNMD]) envolvem o implante cirúrgico de fios (eletrodos) no espaço ao redor dos nervos ou da medula espinhal que são conectados a um dispositivo “gerador de pulso” que geralmente é implantado sob a pele do paciente. Isso fornece estimulação elétrica para os nervos ou medula espinhal.

Pensa-se que essa estimulação interfere no envio de mensagens de perigo à medula espinhal e ao cérebro com o objetivo de reduzir a percepção da dor. Uma vez implantado um dispositivo SNMD, as pessoas convivem com o dispositivo implantado, potencialmente em uma base permanente.

Os autores revisaram as evidências para descobrir se essas intervenções foram eficazes na redução da dor, incapacidade e uso de medicamentos, na melhoria da qualidade de vida e para descobrir o risco e o tipo de complicações que podem causar.

Existem dois tipos amplos de neuromodulação espinhal implantada: estimulação da medula espinhal (spinal cord stimulation [SCS]), onde os eletrodos são colocados perto da medula espinhal e estimulação ganglionar da raiz dorsal (dorsal root ganglion stimulation [DRGS]), onde os eletrodos são colocados perto da raiz nervosa, onde o nervo se ramifica da medula espinhal.

Identificação e avaliação das evidências

Em primeiro lugar, a equipe procurou todos os estudos relevantes na literatura médica. Em seguida, eles compararam os resultados e resumiram as evidências de todos os estudos. Por fim, eles avaliaram a certeza das evidências.

Os autores consideraram fatores como a forma como os estudos foram conduzidos, o tamanho dos estudos e a consistência dos resultados entre os estudos. Com base nas avaliações, eles classificaram as evidências como sendo de certeza muito baixa, baixa, moderada ou alta.

Achados dos autores

Foram encontrados 15 estudos publicados que incluíram 908 pessoas com dor persistente devido a uma variedade de causas, incluindo doença nervosa, dor lombar crônica, dor cervical crônica e síndrome de dor regional complexa. Todos esses estudos avaliaram o SCS; nenhum estudo avaliou DRGS.

Oito estudos (que incluíram 205 pessoas) compararam o SCS com uma estimulação simulada (placebo), em que os eletrodos foram implantados, mas nenhum estímulo foi administrado. Seis estudos que incluíram 684 pessoas compararam o SCS adicionado com gerenciamento médico ou fisioterapia com gerenciamento médico ou fisioterapia por conta própria. A equipe classificou a evidência como sendo de certeza baixa ou muito baixa.

As limitações na forma como os estudos foram conduzidos e relatados, a quantidade de evidências que foram encontradas e a inconsistência entre os estudos em alguns casos significa que a confiança nos resultados é limitada.

O que a evidência sugere?

Em comparação a receber tratamento médico ou fisioterapia apenas, as pessoas tratadas com a adição de SCS podem sentir menos dor e maior qualidade de vida após um mês ou seis meses de estimulação. Há evidências limitadas para tirar conclusões no longo prazo de um ano ou mais. Não está claro se o SCS reduz a deficiência ou o uso de medicamentos.

Em comparação com uma estimulação simulada (placebo), a SCS pode resultar em pequenas reduções na intensidade da dor em curto prazo que podem não ser clinicamente importantes, mas isso atualmente não está claro. Não há evidências em pontos de acompanhamento de médio ou longo prazo.

SCS pode resultar em complicações. Isso inclui movimento ou mau funcionamento dos fios do eletrodo, infecções de feridas e a necessidade de procedimentos cirúrgicos adicionais para corrigir problemas com os dispositivos implantados. Também foram encontradas ocorrências de complicações sérias que incluíram morte, dano aos nervos, fraqueza muscular duradoura, lesão pulmonar, infecção grave, internação hospitalar prolongada e extrusão de um dispositivo de estimulação através da pele.

O que isto significa

O SCS pode reduzir a intensidade da dor em pessoas com dor crônica. Atualmente não está claro quanto desse efeito se deve ao próprio SCS e quanto se deve aos chamados efeitos “placebo”, que são o resultado da experiência de se submeter ao procedimento e da expectativa da pessoa de que o ajudará.

Receber SCS apresenta um risco de complicações relativamente comuns e complicações graves menos comuns. No momento, não há certeza do grau preciso desse risco.

Conclusão dos autores

Foram encontradas evidências de baixa certeza de que o SCS pode não fornecer benefícios clinicamente importantes na intensidade da dor em comparação com a estimulação com placebo. Também foram encontradas evidências de baixa a muito baixa certeza de que as intervenções neuromodulação espinhal implantada podem fornecer benefícios clinicamente importantes para a intensidade da dor quando adicionadas ao tratamento médico convencional ou fisioterapia.

O SCS está associado a complicações, incluindo infecção, falha/migração do eletrodo e necessidade de reoperação/reimplante. O nível de certeza quanto ao tamanho desses riscos é muito baixo. A neuromodulação espinhal implantada pode levar a eventos adversos graves, incluindo morte. A equipe não localizou nenhuma evidência para apoiar ou refutar o uso de DRGS para dor crônica.

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O estudo original foi publicado na Cochrane Library

“Implanted spinal neuromodulation interventions for chronic pain in adults” – 2021

Autores do estudo: O’Connell NE, Ferraro MC, Gibson W, Rice ASC, Vase L, Coyle D, Eccleston C – Estudo

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