Estudo: A relação da neuroplasticidade com o vício em drogas

O cérebro humano é o órgão mais complexo do corpo e é caracterizado por uma habilidade única chamada neuroplasticidade. A neuroplasticidade refere-se à capacidade do cérebro de mudar e se adaptar em seus níveis estruturais e funcionais em resposta à experiência.

Ela também permite o aprendizado de novos idiomas, resolução de problemas matemáticos complexos, aquisição de habilidades técnicas e execução de habilidades atléticas desafiadoras, todas positivas e vantajosas para os seres humanos. No entanto, a neuroplasticidade não é benéfica caso haja o desenvolvimento de comportamentos aprendidos não vantajosos. Um exemplo de aprendizado não vantajoso é o uso habitual de drogas que pode levar ao vício.

O cérebro aprende a responder a drogas de abuso

A primeira decisão de usar uma droga pode ser desencadeada por curiosidade, circunstâncias, personalidade e eventos estressantes da vida. Essa primeira exposição a substâncias aumenta a liberação de uma molécula (neurotransmissor) chamada dopamina, que transmite a sensação de recompensa.

O aumento das alterações nos níveis de dopamina no sistema de recompensa cerebral pode levar a neuroplasticidade adicional após a utilização abusiva de drogas, essas mudanças na neuroplasticidade também são características fundamentais da aprendizagem.

A aprendizagem dependente da experiência, incluindo o uso repetido de drogas, pode aumentar ou diminuir a transmissão de sinais entre os neurônios.

A neuroplasticidade no sistema de recompensa do cérebro após o uso repetido de drogas leva ao hábito (em pessoas vulneráveis) mais compulsivo, onde os usuários ignoram as consequências negativas. Assim, a exposição repetida a drogas cria aprendizado dependente de experiência e alterações cerebrais relacionadas, o que pode levar a padrões desadaptativos do uso de drogas.

Pontos de vista sobre o vício: Aprendizagem e doença

Um modelo de aprendizado recente proposto pelo Dr. Marc Lewis no New England Journal of Medicine destaca as evidências de alterações cerebrais na dependência de drogas e explica essas mudanças como aprendizado normal e habitual, sem se referir a patologia ou doença.

Esse modelo de aprendizado aceita que a dependência de drogas é desvantajosa, mas acredita que é uma resposta natural e sensível ao contexto das circunstâncias ambientais desafiadoras. A Dra. Nora Volkow, diretora do National Institute on Drug Abuse (NIDA), muitos pesquisadores e clínicos, enxergam a dependência como uma doença cerebral desencadeada por muitos fatores genéticos, ambientais e sociais.

O NIDA usa o termo “dependência” para descrever a forma mais grave e crônica de transtorno pelo uso de substâncias, caracterizada por alterações nos sistemas de recompensa, estresse e autocontrole do cérebro. É importante ressaltar que os modelos de aprendizado e de doenças cerebrais aceitam que o vício é tratável, pois nosso cérebro é plástico.

É possível adaptar-se a novos comportamentos aprendidos

A natureza plástica do nosso cérebro sugere que é possível mudar comportamentos ao longo da vida, aprendendo novas habilidades e hábitos. Os modelos de aprendizado apoiam que a superação do vício pode ser facilitada com a adoção de novas modificações cognitivas.

Os modelos de aprendizagem sugerem aconselhamento ou psicoterapia, incluindo abordagens como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que podem ajudar uma pessoa a modificar seus hábitos.

O NIDA sugere que para algumas pessoas, os medicamentos (também chamados de tratamento assistido por medicamentos ou MAT) podem ajudar os pacientes a gerenciar os sintomas a um nível que os auxilie a buscar a recuperação por meio de estratégias como aconselhamento e terapias comportamentais, incluindo a TCC.

Muitas pessoas usam uma abordagem combinada de medicamentos, terapias comportamentais e grupos de apoio para manter a recuperação da adição.

A neuroplasticidade pode ajudar a modificar comportamentos relevantes ao vício

A TCC é um exemplo de intervenção terapêutica baseada na aprendizagem, ela utiliza a neuroplasticidade. Evidências científicas sugerem que a terapia, isoladamente ou em combinação com outras estratégias de tratamento, pode ser uma intervenção eficaz para transtornos por uso de substâncias.

Além disso, ela também ensina uma pessoa a reconhecer, evitar e aprender a lidar com situações em que provavelmente usaria drogas. Outro exemplo de terapia comportamental baseada em evidências que demonstrou ser eficaz para transtornos por uso de substâncias é o gerenciamento de contingências.

O gerenciamento de contingência oferece uma recompensa (como cupons resgatáveis ou ingressos de filmes) para indivíduos em tratamento contra dependência, para reforçar comportamentos positivos, como abstinência.

Essa abordagem é baseada na teoria do condicionamento operante, uma forma de aprendizado em que um comportamento que é positivamente reforçado tende a se repetir. No geral, várias abordagens baseadas em evidências são usadas para o tratamento de distúrbios de uso de substâncias que requerem prática e utilizam neuroplasticidade.

Conclusão

O cérebro é plástico e essa característica é muito importante para que as pessoas possam aprender novas habilidades e a treiná-lo novamente.

O cérebro pode mudar de maneira negativa, como observado na dependência de drogas, mas ele também pode mudar de maneira positiva quando são adotadas as habilidades aprendidas na terapia e existe a formação de hábitos novos e saudáveis.

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O estudo original foi publicado no The New England Journal of Medicine

* “Brain Change in Addiction as Learning, Not Disease” – 2020

Autor do estudo: Marc Lewis – 10.1056/nejmra1602872

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