Alimentos ultraprocessados podem aumentar o declínio cognitivo

Pessoas de meia-idade que comiam mais alimentos ultraprocessados – pão branco, barras de chocolate, biscoitos, refeições congeladas e refrigerantes, por exemplo – tinham uma probabilidade modestamente maior de ter declínio cognitivo subsequente, mostrou um estudo prospectivo no Brasil.

Adultos que consumiram 20% ou mais de suas calorias diárias de alimentos ultraprocessados apresentaram uma taxa 28% mais rápida de declínio cognitivo global ao longo de 8 anos, embora com uma pequena associação linear, relataram Natalia Gomes Gonçalves, PhD, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo no Brasil, e coautores.

Esse grupo também mostrou uma taxa 25% mais rápida no declínio da função executiva, novamente com uma pequena correlação linear, escreveram os pesquisadores no JAMA Neurology.

“A função cognitiva intacta é a chave para o envelhecimento bem-sucedido”, escreveram eles. “Portanto, apesar do pequeno tamanho do efeito da associação entre o consumo de AUP e o declínio cognitivo, nossas descobertas são significativas para a saúde cognitiva”.

Os resultados ecoaram descobertas publicadas no início deste ano que ligavam alimentos ultraprocessados ao risco de demência. Notavelmente, o risco foi projetado nesse estudo para cair drasticamente ao trocar junk food por alimentos não processados ou minimamente processados.

“A meia-idade é um período importante da vida para adotar medidas preventivas por meio de mudanças no estilo de vida, pois as escolhas que fazemos nessa idade influenciarão nossa velhice”, disse Gomes Gonçalves em um e-mail ao MedPage Today.

“Isso não significa que os idosos não terão benefícios se adotarem um estilo de vida mais saudável”, acrescentou. “A pesquisa mostrou repetidamente que nos beneficiamos de escolhas saudáveis em qualquer idade.”

Uma dieta de 20% ou mais de alimentos ultraprocessados é comum, observou ela. “Considerando uma pessoa que come um total de 2.000 kcal por dia, 20% das calorias diárias de alimentos ultraprocessados são cerca de duas barras de Kit Kat, ou cinco fatias de pão”, escreveu Gomes Gonçalves.

Nos EUA, 58% das calorias diárias vêm de alimentos ultraprocessados. No Reino Unido e no Canadá, esse número é de 47 a 48%; no Brasil, é de 30%.

Detalhes do estudo

Gomes Gonçalves e colegas analisaram o consumo de alimentos ultraprocessados no início do estudo e subsequente declínio cognitivo entre 10.775 pessoas no Estudo Longitudinal Brasileiro de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Os participantes foram servidores públicos de 35 a 74 anos recrutados em seis cidades brasileiras no período de 2008 a 2019.

Os pesquisadores avaliaram a ingestão de alimentos e bebidas durante os 12 meses anteriores à linha de base com um questionário de frequência alimentar validado que incluía 114 itens. Os alimentos foram classificados por sua extensão de processamento industrial usando o sistema de classificação NOVA.

As avaliações cognitivas incluíram recordação imediata e tardia de palavras, reconhecimento de palavras, testes de fluência verbal fonêmica e semântica e o Trail-Making Test part B, que foram conduzidos durante um acompanhamento médio de 8 anos. Os indivíduos foram testados até três vezes a cada 4 anos.

A média de idade no início do estudo foi de 51,6 anos. Cerca de 55% dos participantes eram mulheres, 53% eram brancos e 57% tinham pelo menos um diploma universitário. A ingestão calórica diária total foi em média de 2.856 kcal, sendo 27% (785 kcal) de alimentos ultraprocessados. Os pesquisadores agruparam a contribuição percentual dos alimentos ultraprocessados em quartis, comparando o grupo de menor ingestão com todos os outros combinados.

A idade modificou o efeito entre os alimentos ultraprocessados e a função cognitiva. Pessoas com menos de 60 anos que comiam 20% ou mais de suas calorias diárias como alimentos ultraprocessados mostraram um declínio global da cognição mais rápido do que seus colegas da mesma idade que consumiam menos junk food.

“O interessante do sistema de classificação da NOVA é que ele classifica os alimentos com base no processamento industrial pelo qual passam”, observou Gomes Gonçalves. “Para fazer escolhas mais saudáveis, pode-se dedicar mais tempo para cozinhar as refeições do zero em casa.”

“Por exemplo, em vez de comprar pizza congelada, pode-se comprar ingredientes separados, fazer massa caseira e usar ingredientes frescos como coberturas”, observou ela. “É possível fazer escolhas alimentares mais saudáveis dentro de nossas possibilidades, mesmo que nosso acesso a alimentos saudáveis seja limitado. Só precisamos dedicar tempo e energia.”

O atrito é uma preocupação para um estudo de longo prazo, reconheceram os pesquisadores. Pessoas com menos de 55 anos não tiveram uma avaliação cognitiva durante a segunda visita devido ao desenho do estudo. As descobertas se basearam em dados autorrelatados de questionários de frequência alimentar, que podem estar sujeitos a viés e relatórios incorretos.

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O estudo original foi publicado no JAMA Neurology

* “Association Between Consumption of Ultraprocessed Foods and Cognitive Decline” – 2022

Autores do estudo: Natalia Gomes Gonçalves, PhD; Naomi Vidal Ferreira, PhD; Neha Khandpur, ScD; Euridice Martinez Steele, PhD; Renata Bertazzi Levy, PhD; Paulo Andrade Lotufo, MD, PhD; Isabela M. Bensenor, PhD; Paulo Caramelli, MD, PhD; Sheila Maria Alvim de Matos, PhD; Dirce M. Marchioni, PhD4; Claudia Kimie Suemoto, MD, PhD – Estudo

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