Terapia para manter os pontos de acesso de diálise abertos
Pessoas com doença renal avançada (chamada doença renal em estágio terminal) precisam de diálise para realizar as funções renais. Na hemodiálise, o sangue é filtrado por uma máquina.
Para permitir uma passagem grande o suficiente para que o sangue flua entre a pessoa e a máquina, uma artéria e uma veia podem ser unidas cirurgicamente (para formar uma fístula arteriovenosa) ou um enxerto arteriovenoso protético (um substituto de uma veia) é usado para unir o artéria para a veia.
Esses pontos de acesso podem durar anos, mas podem ser bloqueados ou infectados. Esta revisão investigou se a terapia médica adicional pode manter esses pontos de acesso de diálise patentes (ou seja, abertos ou desbloqueados).
Características do estudo e principais resultados
Os autores da revisão identificaram 13 ensaios clínicos randomizados (estudos clínicos onde as pessoas são colocadas aleatoriamente em um de dois ou mais grupos de tratamento; evidências atuais até agosto de 2020) com 2.080 participantes.
Os ensaios compararam medicamentos antitrombóticos (que evitam a coagulação anormal nos vasos sanguíneos, como ticlopidina, aspirina, dipiridamol e clopidogrel) e outros tipos de medicamentos usados para prevenir bloqueios nos pontos de acesso das artérias e veias para diálise em comparação com placebo (tratamento simulado).
Os testes incluíram pessoas com doença renal avançada que receberam diálise por meio de todos os tipos de fístulas arteriovenosas ou enxertos arteriovenosos nos braços ou pernas, ou em locais especiais. A equipe excluiu pessoas que receberam diálise por via abdominal (chamada diálise peritoneal) ou estudos que compararam a terapia médica com nenhum tratamento.
Três estudos (339 participantes) comparando a ticlopidina (um tratamento antiplaquetário) com o placebo mostraram melhora da permeabilidade em um mês. Não houve evidência suficiente de um efeito sobre o fluxo sanguíneo em três estudos comparando aspirina com placebo (175 participantes) ou em dois estudos usando óleo de peixe por 12 meses (220 participantes). Dois estudos compararam o clopidogrel com o placebo em 959 participantes e encontraram evidências insuficientes de um efeito entre os tratamentos.
Ensaios únicos envolvendo 16 a 167 participantes não encontraram nenhum efeito de dipiridamol, dipiridamol mais aspirina, varfarina, sulfinpirazona (medicamento que reduz a concentração de ácido úrico no sangue) ou adesivo de trinitrato de glicerila (medicamento tópico que dilata os vasos sanguíneos) em comparação com o placebo. O estudo comparando a varfarina com o placebo foi encerrado precocemente por causa de sangramento importante no grupo da varfarina.
Dois estudos relataram intervenções cirúrgicas ou radiológicas relacionadas e encontraram evidências insuficientes de um efeito nas intervenções relacionadas entre o placebo e o tratamento. Nenhum estudo relatou o tempo de internação hospitalar. A maioria dos estudos relatou complicações que vão desde enjoo até a morte. No entanto, as informações eram limitadas e variadas entre os estudos. A maioria foi monitorada por um curto período de modo que quaisquer benefícios em longo prazo (mais de três anos) não são claros.
Certeza da evidência
No geral, a certeza das evidências foi de baixa a moderada, o que significa que os resultados podem mudar com mais pesquisas. Isso ocorre porque houve principalmente um ou dois pequenos estudos comparando cada medicamento a um placebo.
Em alguns estudos, usando a mesma medicação, eles tinham uma dosagem (força) diferente ou eram de durações de estudo diferentes, tornando-os difíceis de comparar. Os autores também tiveram preocupação com a falta de detalhes relatados pelos estudos.
Conclusão dos autores
As meta-análises de três estudos para ticlopidina (um tratamento antiplaquetário), em que todos usaram a mesma dose de tratamento, mas comva um curto acompanhamento de apenas um mês, sugerem que a ticlopidina pode ter um efeito benéfico como tratamento adjunte para aumentar a permeabilidade de AVFs e AVGs no curto prazo.
Não havia evidências suficientes para determinar se havia uma diferença na permeabilidade do enxerto entre o placebo e outros tratamentos, como aspirina, óleo de peixe, clopidogrel, dipiridamol, dipiridamol mais aspirina, varfarina, sulfinpirazona e adesivo GTN.
A certeza da evidência foi de baixa a moderada devido aos curtos períodos de acompanhamento, o pequeno número de estudos para cada comparação, tamanhos de amostra pequenos, heterogeneidade entre os ensaios e risco de viés devido ao relato incompleto. Portanto, parece razoável sugerir a realização de mais estudos prospectivos para avaliar o uso dessas drogas antiplaquetárias em pacientes renais com FAV ou AVG.
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O estudo original foi publicado na Cochrane Library
“Medical adjuvant treatment to increase patency of arteriovenous fistulae and grafts” – 2021
Autores do estudo: Mohamed I, Kamarizan MF, Da Silva A – Estudo