Ultrassom melhorou função motora em pessoas com doença de Parkinson

Um pequeno ensaio controlado por simulação mostrou que o ultrassom focado em um hemisfério cerebral melhorou a função motora no lado oposto do corpo em pessoas com doença de Parkinson, porém levou a eventos adversos frequentes e persistentes.

Em um grupo selecionado de pacientes com sintomas de Parkinson marcadamente assimétricos, a subtalamotomia por ultrassom focada levou a uma melhora significativa nos escores Escala de Avaliação da Doença de Parkinson Unificada da Sociedade de Distúrbios do Movimento (MDS-UPDRS III) em 4 meses quando comparada com o tratamento simulado, com uma diferença de grupo de 8,1 pontos, disse Raul Martinez-Fernandez, MD, PhD, da Universidade CEU San Pablo em Mostoles, na Espanha, e coautores.

“Este ensaio randomizado e controlado por sham mostrou que a subtalamotomia de ultrassom focalizada realizada em um hemisfério melhorou as características motoras da doença de Parkinson no lado mais afetado em 4 meses”, relataram no New England Journal of Medicine.

“Os eventos adversos, como discinesias, fraqueza motora e distúrbios da marcha e da fala foram frequentes e persistiram em vários pacientes”, de acordo com Martinez-Fernandez e colegas. “Esses resultados são semelhantes aos resultados em séries não controladas de subtalamotomia por radiofrequência estereotáxica para o tratamento da doença de Parkinson.”

Alterações nos escores motores MDS-UPDRS basais para o lado mais afetado foram  variáveis, alternando de 5% a 95%, e foram mais aparentes para tremor e redução de rigidez do que bradicinesia.

Entre os 27 pacientes que foram tratados com subtalamotomia de ultrassom focalizado, os efeitos adversos incluíram:

  • Discinesia no estado sem medicação em seis pacientes e no estado com medicação em seis pacientes, que persistiu em três pacientes e um paciente, respectivamente, durante 4 meses
  • Fraqueza no lado tratado em cinco pacientes, que persistiu em dois pacientes por 4 meses
  • Perturbação da fala em 15 pacientes, que persistiu em três pacientes durante 4 meses
  • Fraqueza facial em três pacientes, que persistiu em um paciente por 4 meses
  • Distúrbio da marcha em 13 pacientes, que persistiu em dois pacientes durante 4 meses

Alguns desses déficits estavam presentes em seis pacientes por cerca de 12 meses.

A estimulação cerebral profunda (ECP) para o tratamento da doença de Parkinson tem como objetivo o núcleo subtalâmico ou o segmento interno do globo pálido, mas alguns pacientes desconfiam da cirurgia e do harware de ECP, disse Joel Perlmutter, MD, e Mwiza Ushe, MD, ambos da Universidade de Washington em St. Louis, em um editorial anexo.

O ultrassom focalizado, que teve a aprovação para tratar o tremor essencial intratável, “tem a vantagem de produzir lesões sem a necessidade de craniotomia”.

Contudo, neste pequeno estudo, os pacientes fizeram a subtalamotomia por ultrassom focada tiveram quase cinco vezes mais eventos adversos do que aqueles que passaram pelo procedimento simulado, ressaltaram Perlmutter e Ushe.

“Esses eventos adversos em um grupo de pacientes relativamente jovens e a falta de capacidade de modular o tratamento ao longo do tempo para tratar tremores proeminentes levantam questões sobre a implementação apropriada de lesões produzidas por ultrassom focalizado para o tratamento da doença de Parkinson”, disseram.

Características do estudo

O estudo contou com 40 adultos diagnosticados com a doença de Parkinson marcadamente assimétrica que apresentavam sinais motores não totalmente controlados por medicação ou que não eram elegíveis para cirurgia ECP.

Ao total, 27 pacientes (média de idade de 56,6%, 59% homens) tinham tinham subtalamotomia de ultrassom focalizada no lado oposto aos seus sinais motores principais e 13 tinham um procedimento simulado (idade de 58,1, 77% homens).

Em 4 meses, os escores motores MDS-UPDRS médios para o lado mais afetado reduziram de 19,9 no início do estudo para 9,9 no grupo tratado e de 18,7 para 17,1 no grupo simulado.

“Os efeitos colaterais como a disartria podem limitar a aplicação a lesões produzidas por ultrassom focalizado em um hemisfério porque a frequência da disartria é provavelmente maior com procedimentos realizados em ambos os hemisférios”, relataram Perlmutter e Ushe. Mas “limitar o tratamento a um lado do cérebro por lesões produzidas por ultrassom restringe a aplicação, uma vez que a maioria dos pacientes com doença de Parkinson tem progressão dos sintomas em ambos os lados do corpo”, disseram.

O estudo teve diversas limitações, que incluíram seu pequeno tamanho de amostra, disseram os pesquisadores. Quase todos os pacientes foram cadastrados em um dos dois locai de estudos, tornando-o um ensaio de centro único. Além disso, tanto os pacientes quanto os avaliadores adivinharam de maneira correta as atribuições do grupo de ensaio, apagando o efeito pretendido de cegar.

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O estudo original foi publicado no New England Journal of Medicine

* “Randomized Trial of Focused Ultrasound Subthalamotomy for Parkinson’s Disease” – 2020

Autores do estudo: Raúl Martínez-Fernández, Jorge U. Máñez-Miró, Rafael Rodríguez-Rojas, Marta del Álamo, Binit B. Shah, Frida Hernández-Fernández, José A. Pineda-Pardo, Mariana H.G. Monje, Beatriz Fernández-Rodríguez, Scott A. Sperling, Psy.D., David Mata-Marín, Pasqualina Guida, Fernando Alonso-Frech, Ignacio Obeso, Carmen Gasca-Salas, Lydia Vela-Desojo, W. Jeffrey Elias, José A. Obeso – 10.1056/NEJMoa2016311

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