Índice de suicídio é maior em profissionais da saúde durante a pandemia
Apesar de experimentar níveis significativos de sofrimento psicológico, os médicos são menos propensos que a população em geral a procurar tratamento para a saúde mental.
As barreiras relatadas que impedem que estes profissionais busquem ajuda incluem restrições de tempo, relutância em chamar a atenção para a fraqueza auto-percebida e preocupações sobre sua reputação e confidencialidade.
Além disso, os médicos com problema de saúde mental podem recorrer à automedicação, principalmente com medicamentos prescritos para gerenciar ansiedade, insônia ou outros sintomas angustiantes, de acordo com informações da Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio.
Índices aumentaram durante a pandemia do COVID-19
Uma grande equipe de pesquisa destacou que, juntamente com evidências de aumento dos riscos de burnout e depressão, os médicos possuem uma taxa de suicídio mais alta do que a população em geral. Além disso, os problemas de saúde mental estão aumentando entre profissionais de saúde na linha de frente da pandemia do COVID-19.
Um estudo recente com profissionais de saúde que estão no epicentro do surto de COVID-19 na China, descobriu que mais da metade das pessoas sofreu com efeitos psicológicos, incluindo depressão, insônia e angústia.
Lorna Breen, médica da emergência de Nova York, depois de meses lutando bravamente para cuidar de seus pacientes, apoiar seus colegas e recuperar sua própria saúde após o desenvolvimento do COVID-19, acabou não conseguindo lidar com o transtorno mental e a carga de trabalho extrema e acabou se suicidando no dia 26 de abril.
Um estudo recente publicado na JAMA surgery identificou vários fatores de risco para suicídio entre profissionais de saúde, o que pode ajudar a comunidade médica a se preparar para a crise de saúde mental emergente do COVID-19.
Comparado com a população em geral, foi observado um risco aumentado de suicídio entre cirurgiões, médicos não cirurgiões e dentistas que tiveram problemas no trabalho, como conflitos com superiores, problemas legais ou problemas de saúde física, relataram Yisi D. Ji, DMD, da Harvard Medical School em Boston e colegas.
Os profissionais de saúde que morreram por suicídio também eram substancialmente mais velhos do que aqueles que morreram por suicídio na população em geral, isso foi identificado como um fator de risco em todas as especialidades (59,6 x 46,8 anos), escreveram os pesquisadores.
Desenvolvimento do estudo
Para o estudo, Ji e o restante da equipe analisaram retrospectivamente os registros de óbitos de 2003 a 2006 de 32 estados (EUA). Durante esse período, 170.030 indivíduos que morreram por suicídio foram relatados no banco de dados do CDC’s National Violent Death Reporting System (NVDRS).
Entre os profissionais de saúde do estudo, ocorreram 767 mortes por suicídio, representando apenas 0,5% do número total de suicídios registrados no NVDRS.
A maioria dos profissionais que morreram durante o período do estudo eram homens (88%) e brancos (89,7%). Cerca de dois terços (63,2%) eram médicos não cirurgiões, 23,3% eram dentistas e 13,4% eram cirurgiões.
Em comparação com a polução geral, o grupo também apresentava um risco aumentado se tivessem doença mental, ou fossem descendentes de asiáticos ou das ilhas do Pacífico.
Ji e sua equipe não encontraram associação entre a morte por suicídio com profissionais de saúde e fatores de risco de suicídio médico publicados anteriormente (por exemplo, medicamentos antipsicóticos, opioides, benzodiazepínicos, barbitúricos e antidepressivos, além de cocaína e maconha) em comparação com os medicamentos na população geral.
Quando confrontado com outras especialidades, os cirurgiões apresentaram maior risco de suicídio se fossem mais velhos ou tivessem doença mental.
Foi observado que o risco é maior em cirurgiões em comparação com outras especialidades para médicos com problemas legais civis, problemas no trabalho (como mau desempenho), pressão no trabalho, medo de ser demitido ou rebaixado, conflito com colegas ou superiores ou problemas de saúde física.
Conclusão dos autores
“A crença predominante é que os médicos residentes têm um risco maior de suicídio devido à dificuldade associada ao alto número de horas de treinamento necessárias”, escreveram os autores. “Nossos resultados sugerem que, além dos relatórios que descrevem o esgotamento dos trainees, outra população composta por cirurgiões mais velhos e médicos não cirurgiões também pode estar em risco de suicídio”.
A busca por cirurgiões por ocupação pode não ser precisa, pois eles também podem ser listados como médicos, o que é uma limitação, observaram os pesquisadores, acrescentando que eles também não conseguiram avaliar as taxas de suicídio ao longo do tempo devido à natureza do banco de dados.
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O estudo original foi publicado no JAMA Network
* “Assessment of Risk Factors for Suicide Among US Health Care Professionals” – 2020
Autores do estudo: Yisi D. Ji, Faith C. Robertson, Nisarg A. Patel, Zachary S. Peacock, Cory M. Resnick – 10.1001/jamasurg.2020.1338