Uso da hidroxicloroquina para tratar bloqueio cardíaco na gravidez de risco
A hidroxicloroquina na prevenção do bloqueio cardíaco congênito
Um estudo aberto sugeriu que a hidroxicloroquina (HCQ) ajudou a reduzir o bloqueio cardíaco congênito (BCC) mediado por autoanticorpos maternos nos fetos.
Mães anti-SSA/Ro positivas que tiveram gravidez anterior complicada pelo BCC e que tomaram HCQ (400 mg por dia), começando antes do final da décima semana gestacional, tinham uma taxa de 7,4% de BCC fetal clinicamente relevante (segundo ou terceiro grau) a qualquer momento durante a gravidez.
Isso superou a taxa histórica de recorrência de 18% do bloqueio cardíaco fetal em mulheres em gestação de alto risco com esses anticorpos, associados a doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico e síndrome de Sjögren.
Essas descobertas foram consistentes na população original de 54 pessoas com intenção de fazer o tratamento e em uma análise modificada, na qual as nove mães que tomaram medicamentos potencialmente confusos foram substituídas por outras nove.
“Assim, a hidroxicloroquina é o primeiro medicamento apontado para alterar favoravelmente as consequências cardíacas fetais associadas aos anticorpos anti-SSA/Ro maternos”, escreveram Peter Izmirly, MD, NYU Langone Health na cidade de Nova York e seus colegas na edição de 21 de julho no Journal of the American College of Cardiology.
“Esses dados prospectivos apoiam que a hidroxicloroquina reduz significativamente a recorrência de BCC abaixo da taxa histórica em > 50%, sugerindo que este medicamento deve ser prescrito para a prevenção secundária de doença cardíaca fetal em gestações expostas a anti-SSA/Ro”, afirma Izmirly e demais autores do estudo.
Resultados obtidos
Os resultados da pesquisa foram relatados pela primeira vez na reunião anual do American College of Rheumatology no ano de 2019.
A hidroxicloroquina, um antagonista de receptores do tipo Toll, pode funcionar porque o BCC que ocorre em um feto saudável, sem anormalidades estruturais cardíacas, é quase sempre devido à exposição a anticorpos anti-SSA/Ro maternos via sinalização do receptor de macrófagos, sugeriram os autores.
“A eficácia da hidroxicloroquina precisa ser equilibrada com possíveis preocupações de segurança. Os dados publicados sugerem que ela é segura para uso durante a gravidez, sem aumento da frequência de malformação congênita, anormalidades auditivas ou visuais na prole”, de acordo com o grupo de Izmirly.
Contudo, o maior risco fetal materno e transplacentário da hidroxicloroquina é o efeito no intervalo QT, que pode induzir parada cardíaca súbita, alertaram Janette Strasburger, MD, do Children’s Wisconsin, Milwaukee e Annette Wacker -Gussmann, MD, do German Heart Center, Munique, em um editorial.
O prolongamento do intervalo QT foi a preocupação destacada pelos grupos médicos que rejeitaram a hidroxicloroquina como terapia para o COVID-19.
“As mulheres são mais suscetíveis ao prolongamento pró-arrítmico do QTc, durante a gravidez elas podem manifestar níveis baixos de magnésio, cálcio e 25-hidroxi vitamina D, potencializando ainda mais o risco”, de acordo com os editorialistas.
“Em resumo, a hidroxicloroquina é um medicamento altamente benéfico no tratamento de mulheres com doenças autoimunes e agora tem um novo papel na profilaxia do bloqueio cardíaco fetal recorrente, onde ela reduz pela metade a taxa de desenvolvimento. Dado o risco de prolongamento do intervalo QTc, se disponível, a magnetocardiografia fetal deve ser considerada um risco de estratificação do feto”, enfatizaram.
Conclusão dos autores
Os participantes do estudo aderiram à hidroxicloroquina testada durante o segundo trimestre. Os níveis de HCQ foram >200ng/mL, confirmando a adesão em 60 dos 61 testes.
A equipe de Izmirly relatou um caso de fibroelastose endocárdica leve e quatro de lúpus neonatal cutâneo.
A natureza não randomizada do estudo foi a sua principal limitação. Além disso, as mães que participaram podem ter tomado medicamentos confusos durante a gestação, admitem os pesquisadores.
“Mesmo com os melhores tratamentos disponíveis, ainda são necessários ensaios clínicos para definir melhor os tratamentos mais eficazes para o bloqueio cardíaco congênito, uma vez que ele se desenvolva”, afirmam Strasburger e Wacker-Gussmann.
O grupo também sugere a necessidade de mais esforços para avaliar e corrigir fatores de risco modificáveis antes e durante a gravidez, assim como melhores métodos da detecção precoce do BCC.
No entanto, “este estudo, realizado por uma equipe com vasta experiência, representa um avanço notável no tratamento de gestações com alto risco de bloqueio cardíaco congênito recorrente”, escreveram.
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O estudo original foi publicado no Journal of the American College of Cardiology
* “Hydroxychloroquine to Prevent Recurrent Congenital Heart Block in Fetuses of Anti-SSA/Ro-Positive Mothers” – 2020
Autores do estudo:
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