Pesquisadores analisam tratamentos para glioblastoma multiforme
O glioblastoma multiforme (GBM) é uma espécie de tumor cerebral muito agressivo. Mesmo depois do tratamento com cirurgia, radioterapia e quimioterapia o tumor pode continuar crescendo (progredindo), além do risco de quase sempre voltar (recidiva).
Na revisão, a equipe considerou a progressão e recorrência como uma entidade. Uma série de tratamentos diferentes passaram por testes, mas não houve um consenso sobre qual ou quais seriam os melhores tratamentos para oferecer a pacientes em progressão ou em recidiva.
Objetivos
O objetivo principal foi analisar quais são os tratamentos mais efetivos para pacientes com GBM em progressão ou recorrente que já passaram por cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
A equipe avaliou a eficácia em termos de duração da sobrevida global (SG), sobrevida sem progressão da doença (sobrevida livre de progressão, PFS), efeitos colaterais graves e se os tratamentos influenciaram na qualidade de vida.
Os tratamentos administrados quando a doença progrediu ou recidivou pela primeira vez (primeira recorrência) e quando voltou após disso (segunda recorrência ou recorrências subsequentes) também foram observados.
Métodos
Os autores fizeram uma busca por estudos de pesquisa relevantes que compararam a eficácia de diferentes tratamentos para GBM recorrente.
Foi utilizada a meta-análise de rede para comparar diferentes tratamentos. A meta-análise de rede é um método estatístico que permite que diferentes tratamentos sejam avaliados em conjunto para saber qual é o melhor.
Esse método faz com que diferentes tratamentos sejam catalogados de acordo com sua eficácia, mesmo que os tratamentos não tenham sido comparados diretamente entre si em pesquisas.
Resultados principais
A revisão contou com 42 estudos (34 ensaios clínicos randomizados – ECRs – e 8 ensaios não randomizados) envolvendo 5.236 participantes.
As intervenções incluíram quimioterapia, reoperação, re-irradiação e tratamentos que foram desenvolvidos recentemente, utilizados sozinhos ou em combinação. Não foi possível realizar uma meta para a segunda recorrência ou posterior por causa de dados insuficientes.
Resultados de sobrevivência para pessoas com uma primeira recorrência
Os autores não encontraram nenhuma evidência mostrando que qualquer um dos tratamentos em teste fosse melhor do que a lomustina (também conhecida como CCNU). Acrescentar bevacizumabe à lomustina (BEV + LOM) não foi capaz de melhorar a sobrevida global em comparação com a lomustina sozinha.
Outros quimioterápicos e novos agentes não foram eficientes ou a evidência sobre eles era incerta. Infelizmente, não foi possível localizar estudos sobre vários tratamentos comumente usados, como PCV (procarbazina, CCNU, vincristina) e re-desafio com TMZ, para incluir.
Evidências limitadas mostram que uma segunda operação com ou sem outros tratamentos pode apresentar vantagens de sobrevivência para alguns indivíduos com uma primeira recorrência. Um pequeno ensaio de um tratamento com canabinoide aponta que isso merece uma investigação mais profunda.
Resultados de sobrevivência para pessoas com uma segunda recorrência ou posterior
Para uma segunda recorrência ou posterior, a evidência insuficiente significa que a equipe não foi capaz de fazer uma análise estatística.
Os resultados sugerem que a radioterapia com ou sem BEV pode apresentar algumas vantagens de sobrevivência, mas esta evidência é incerta. Não foram localizadas evidências confiáveis sobre os melhores cuidados de suporte.
Eventos adversos graves de tratamento
A maioria dos tratamentos causou alguns eventos colaterais graves. A combinação BEV + LOM foi associada a um risco significativamente mais perigoso de efeitos adversos graves do que a lomustina sozinha.
Em geral, a inclusão de tratamentos ao bevacizumabe foi associada a mais efeitos colaterais graves se comparada com o BEV sozinho.
Conclusão dos autores
Para o tratamento da primeira recorrência de GBM, a lomustina parece ser o tratamento de quimioterapia mais efetivos e outras terapias combinadas testadas demonstraram um risco elevado de efeitos colaterais graves. Uma segunda operação ou radioterapia, ou ambas, podem ser importantes em pacientes selecionados.
Para a segunda recorrência, a radioterapia com ou sem bevacizumabe pode ter um papel, mas é preciso que mais evidências sejam disponibilizadas. Diversos tratamentos comumente usados não foram analisados, como PCV (lomustina mais procarbazina e vincristina) e reinício com temozolomida. São necessárias mais pesquisas.
Para o tratamento da primeira recorrência de GBM, entre pessoas previamente tratadas com cirurgia e quimiorradioterapia padrão, os tratamentos combinados investigados não melhoraram a sobrevida global em comparação com a monoterapia LOM e foram constantemente associados a um risco elevado de eventos adversos graves.
Evidências limitadas mostram que a reoperação com ou sem re-irradiação e quimioterapia pode ser a opção adequada para candidatos selecionados. As evidências sobre a segunda recorrência são esparsas. A re-irradiação com ou sem bevacizumabe pode ser útil em indivíduos selecionados, mais evidências são necessárias.
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O estudo original foi publicado na Cochrane Library
* “Treatment options for people with recurrent and progressive glioblastoma” – 2021
Autores do estudo: McBain C, Lawrie TA, Rogozińska E, Kernohan A, Robinson T, Jefferies S – Estudo