Estudo investiga melhor cirurgia para tratar glaucoma congênito primário
O glaucoma congênito primário (GCP) é uma doença rara do nervo óptico. Afeta crianças com menos de cinco anos e é causada por pressão anormalmente elevada no olho.
Isso ocorre quando o sistema de drenagem do olho não funciona corretamente e o fluido se acumula. O aumento da pressão no olho pode danificar o nervo óptico e causar cegueira parcial ou mesmo total.
O tratamento mais comum para o GCP é a cirurgia. Existem diferentes abordagens cirúrgicas que visam diminuir a pressão no olho.
Por exemplo, na goniotomia é feita uma incisão para criar uma abertura no interior do olho, por onde o fluido pode drenar, enquanto na trabeculotomia é feita uma incisão na parte externa.
Uma terceira técnica, a trabeculectomia, envolve a remoção de algum tecido para criar uma abertura. Isso pode ser combinado com trabeculotomia.
Como acontece com qualquer tratamento médico, cada abordagem cirúrgica para GCP tem benefícios e riscos potenciais. Para descobrir se alguns procedimentos cirúrgicos são mais benéficos ou causam mais efeitos indesejáveis do que outros, pesquisadores revisaram as evidências de pesquisas.
Como as evidências foram identificadas e avaliadas
Em primeiro lugar, os autores procuraram todos os estudos relevantes na literatura médica. Em seguida, houve a comparação dos resultados e o resumo das evidências de todos os estudos.
Finalmente, foi feita a avaliação do quão certas eram as evidências. A equipe considerou fatores como a forma como os estudos foram conduzidos, o tamanho do estudo e a consistência dos resultados.
As evidências foram categorizadas como de certeza muito baixa, baixa, moderada ou alta.
Achados dos autores
Foram encontrados 16 estudos com um total de 446 crianças com GCP. As crianças foram acompanhadas por seis a 80 meses após a cirurgia. Onze estudos foram realizados no Egito e no Oriente Médio, três na Índia e dois nos EUA.
Trabeculectomia mais trabeculotomia x trabeculectomia sozinha
Três estudos (em 68 crianças) compararam a trabeculectomia combinada com a trabeculotomia, contra a trabeculectomia sozinha. Os estudos foram mal conduzidos e pequenos, os resultados foram inconsistentes entre os estudos (evidência de certeza muito baixa).
Portanto, não pode-se dizer a partir desses estudos qual abordagem cirúrgica é mais bem-sucedida ou causa menos efeitos indesejados.
Viscotrabeculotomia x trabeculotomia convencional
Dois estudos (em 39 crianças) compararam a viscotrabeculotomia (um tipo de trabeculotomia que usa um líquido espesso para criar uma abertura no sistema de drenagem do olho) com a trabeculotomia convencional.
Os estudos foram mal conduzidos e pequenos (evidências de certeza muito baixa), portanto, não pode-se afirmar a partir desses ensaios qual abordagem cirúrgica é mais bem-sucedida ou causa menos efeitos indesejados.
Trabeculotomia (assistida por microcateter, 360 graus) x trabeculotomia convencional
Dois estudos (em 95 crianças) compararam outro tipo de trabeculotomia (trabeculotomia de 360 graus assistida por microcateter) – onde uma abertura é feita ao redor do olho com a ajuda de um tubo oco muito pequeno – com a trabeculotomia convencional.
A evidência foi de certeza moderada porque os estudos foram bem conduzidos, mas pequenos. A evidência sugere que a trabeculotomia de 360 graus assistida por microcateter provavelmente reduz a pressão ocular ligeiramente um ano após a cirurgia.
As crianças que recebem esse tratamento são provavelmente mais propensas a ter pressão ocular normal (abaixo de 21 mmHg) um ano após a cirurgia do que aquelas que fazem a trabeculotomia convencional.
No entanto, as evidências sugerem que eles provavelmente têm maior probabilidade de também apresentar hifema, um efeito colateral no qual o sangue se acumula na parte frontal do olho, bloqueando parcial ou completamente a visão.
Outros procedimentos cirúrgicos
Nenhum dos nove ensaios restantes investigou os mesmos procedimentos cirúrgicos. Isso significa que, para muitos procedimentos para GCP, como a trabeculectomia por conta própria ou goniotomia, há pouca evidência para determinar se um método é melhor ou causa mais efeitos indesejáveis do que outros.
Conclusão dos autores
A evidência sobre os benefícios e riscos comparativos de diferentes procedimentos cirúrgicos para GCP é limitada. A trabeculotomia de 360 graus assistida por microcateter é provavelmente mais benéfica do que a trabeculotomia padrão, mas provavelmente causa mais efeitos indesejados.
Os efeitos comparativos de outros procedimentos cirúrgicos não são conhecidos, pois não existem estudos ou são poucos os estudos que os comparam.
A evidência sugere que pode haver pouca ou nenhuma evidência de diferença entre a CTT e a trabeculotomia convencional de rotina, ou entre a viscotrabeculotomia e a trabeculotomia convencional de rotina.
Uma trabeculotomia circunferencial de 360 graus pode mostrar maior sucesso cirúrgico do que a trabeculotomia convencional.
Considerando a raridade da doença, pesquisas futuras se beneficiariam de um ensaio multicêntrico, possivelmente internacional, envolvendo pais de crianças com GCP e com acompanhamento de pelo menos um ano.
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O estudo original foi publicado na Cochrane Library
* “Surgical interventions for primary congenital glaucoma” – 2020
Autores do estudo: Gagrani M, Garg I, Ghate D – 10.1002/14651858.CD008213.pub2