O Zika vírus afeta desenvolvimento de colágeno cerebral do bebê!
O Zika vírus pode prejudicar o desenvolvimento vital de colágeno cerebral do bebê cujas mães foram infectadas com a doença durante a gravidez, revela uma nova pesquisa, à medida que a busca por uma vacina continua.
O colágeno cerebral do bebê
O colágeno cerebral do bebê é crucial para o sistema circulatório, pois regula a compressão dos vasos sanguíneos. Uma grande quantidade de colágeno encontrada no cérebro humano está localizada dentro do tecido da veia.
Os resultados da pesquisa podem explicar a morte de bebês com microcefalia, um defeito de nascença que faz com que um bebê nasça com uma cabeça menor e, geralmente, cérebros menores que podem não ter se desenvolvido adequadamente.
“Em um estudo anterior, vimos que mães com uma rara mutação em seus genes de colágeno tinham mais chances de ter bebês com microcefalia se fossem infectadas pelo vírus Zika. Neste estudo, descobrimos que o vírus afeta os genes formadores de colágeno nos fetos. Esses dois fatores combinados levam a casos muito graves de síndrome congênita do zika e morte infantil”, diz Renato Aguiar, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais e principal autor do estudo, publicado na Science Signaling.
No início de 2015, o Brasil experimentou um surto de Zika vírus e seis meses depois foi relatada a associação entre infecção pelo vírus Zika e microcefalia, afirma a Organização Mundial da Saúde. Surtos e evidências de transmissão apareceram nas Américas, África e outras regiões do mundo.
Este ano, o Ministério da Saúde do Brasil foi notificado de mais de 3500 casos prováveis de Zika vírus.
A Vacina
Os cientistas continuam trabalhando em uma vacina para proteger contra o Zika vírus, que é transmitido principalmente pelos mosquitos Aedes.
A pesquisa analisou dois candidatos a vacina, descobrindo que, embora ambos induzissem anticorpos neutralizantes, apenas um era protetor contra um desafio viral.
“A pesquisa mostra que uma vacina que visa neutralizar partículas maduras do vírus Zika pode ser eficaz. Essa ‘vacina protetora’ estimula a produção de anticorpos neutralizantes – ou mecanismos naturais de defesa – que funcionam como chaves que reconhecem e ajustam os “bloqueios” específicos encontrados na superfície do vírus adulto, chamados epítopos”, diz o co-autor Ted Pierson, chefe do Laboratório de Doenças Virais do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas nos Estados Unidos.
Testes clínicos em camundongos, primatas e humanos mostraram que, uma vez que um anticorpo encontra o “bloqueio”, ele reconhece o vírus como uma ameaça e é capaz de combatê-lo.
No entanto, Pierson diz que “o uso de vacinas em mulheres grávidas é algo que deve ser estudado com muito cuidado. A maneira mais fácil de proteger essas mulheres é torná-las imunes ao zika antes mesmo de engravidar”.
Pesquisa necessária
“O desenvolvimento de uma vacina ainda pode levar algum tempo. Há um estudo clínico de fase dois em andamento nas Américas, incluindo Peru, Costa Rica e México, que proporcionará uma melhor compreensão da segurança das vacinas, mas um maior desenvolvimento exigirá investimentos”, diz Pierson.
Porém, a pesquisa de vacinas pode ser mais lenta, pois o número de casos observáveis diminuiu desde 2016.
“Portanto, ainda existem incógnitas e alguns desafios sobre como podemos passar de vacinas candidatas seguras a eficazes”, diz Pierson.
Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, que não participou de nenhum dos estudos, diz que a pesquisa de Aguiar explica “não apenas a síndrome do zika, mas também por que há uma gradação entre bebês que não têm sinal da doença, enquanto outros apresentam problemas graves de desenvolvimento”.
A disseminação do mosquito Aedes para outras latitudes é motivo de preocupação. O mosquito está se movendo mais rápido do que os epidemiologistas esperavam e há surtos menores ocorrendo na parte sul do Brasil.
“Como o zika não é uma doença endêmica nessas regiões, a população não tem defesas naturais contra ele”, alerta Spilki.
Pesquisas sobre zika e vírus semelhantes continuam sendo uma prioridade, diz ele, apesar dos desafios da crise do COVID-19 e dos surtos de dengue e Chikungunya. Ele diz que parte da resposta ao COVID-19 vem de lições aprendidas durante a epidemia de Zika.
“Mas, é crucial que essa pesquisa tenha apoio financeiro sustentado e de longo prazo. É triste dizer isso, mas parece que o estudo de epidemias virais depende de emergências de saúde pública para obter um impulso. Isso está longe de ser ideal – deve haver continuidade no financiamento para que possamos responder mais rápido e melhor a esses surtos quando surgirem. E mais deles o farão, porque esses vírus são um problema perene no Brasil e na América Latina”, concluiu Spilki.
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A Pesquisa foi publicada na Science Translational Medicine.
* “Molecular alterations in the extracellular matrix in the brains of newborns with congenital Zika syndrome” – 2020.
Autores da Pesquisa: Renato S. Aguiar, Fabio Pohl, Guilherme L. Morais, Fabio C. S. Nogueira, Joseane B. Carvalho, Letícia Guida, Luis W. P. Arge, Adriana Melo, Maria E. L. Moreira, Daniela P. Cunha, Leonardo Gomes, Elyzabeth A. Portari, Erika Velasquez, Rafael D. Melani, Paula Pezzuto, Fernanda L. de Castro, Victor E. V. Geddes, Alexandra L. Gerber, Girlene S. Azevedo, Bruno L. Schamber-Reis, Alessandro L. Gonçalves, Inácio Junqueira-de-Azevedo, Milton Y. Nishiyama Jr, Paulo L. Ho, Alessandra S. Schanoski, Viviane Schuch, Amilcar Tanuri, Leila Chimelli, Zilton F. M. Vasconcelos, Gilberto B. Domon, Ana T. R. Vasconcelos, Helder I. Nakaya – 10.1126/scisignal.aay6736