Tratamento de TDAH em adultos com droga estimulante
O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é caracterizado por sintomas de desatenção ou impulsividade, ou ambos, e hiperatividade, que afetam crianças, adolescentes e adultos.
Em alguns países, o metilfenidato é a primeira opção para tratar adultos com TDAH moderado ou grave. No entanto, as evidências sobre a eficácia e os eventos adversos do metilfenidato de liberação imediata (IR) no tratamento do TDAH em adultos são limitadas e controversas.
Objetivo da revisão
Os autores revisaram as evidências sobre os efeitos do tratamento de adultos com TDAH com uma droga estimulante chamada metilfenidato de liberação imediata (IR).
Mensagens-chave
Em comparação com o placebo (uma pílula simulada), o metilfenidato IR pode promover uma pequena redução nos sintomas de TDAH e pode aumentar a percepção do médico de uma melhora nos sintomas. O metilfenidato IR aumentou o risco de efeitos adversos, como perda de apetite, boca seca, náuseas e dores de estômago.
Comparado com o lítio (um medicamento para tratar a hiperatividade e excitação), o metilfenidato IR pode promover poucas ou nenhuma mudança nos sintomas de TDAH, ansiedade e depressão.
Esses resultados são incertos e não se sabe se é possível confiar neles.
O que foi estudado na revisão?
O TDAH é uma deficiência mental. O problema é diagnosticado em adultos que mostram sinais de desatenção (por exemplo, dificuldade de concentração), hiperatividade (por exemplo, incapaz de ficar parado) e impulsividade (por exemplo, fazer coisas sem pensar).
A equipe buscou estudos comparando metilfenidato IR, em qualquer dose, com outros medicamentos (incluindo formulações de liberação prolongada de metilfenidato, onde o medicamento é liberado lentamente ao longo do tempo) ou placebo, para tratar TDAH em adultos.
O objetivo era saber o efeito do metilfenidato IR sobre os sintomas de TDAH e se as pessoas tiveram eventos adversos.
Os autores também queriam entender se as pessoas tratadas com o medicamento ou seus médicos perceberam mudanças em seus sintomas (piorando ou melhorando), saúde mental (depressão, ansiedade) ou qualidade de vida.
Resultados principais
Foram localizados 10 ensaios, envolvendo 497 adultos. Três ensaios foram realizados na Europa e um na Argentina; os ensaios restantes não informaram sua localização. Seis estudos compararam o metilfenidato IR com placebo.
Nos outros ensaios, o metilfenidato IR foi comparado a uma forma de liberação prolongada de bupropiona (um antidepressivo), lítio, uma forma de liberação prolongada de metilfenidato denominada sistema oral de liberação osmótica (OROS) e Pycnogenol® (um medicamento derivado do casca de um pinheiro).
As pessoas foram tratadas por 6 a 18 semanas. Os participantes eram principalmente pacientes ambulatoriais; alguns participantes eram pacientes internados para tratamento de dependência ou indivíduos dispostos a participar de um programa ambulatorial intensivo para dependência de cocaína.
Metilfenidato IR versus placebo
Um ensaio com 146 participantes relatou que o metilfenidato IR pode reduzir os sintomas de TDAH quando avaliado pelos médicos. Quando os participantes julgam seus próprios sintomas, pode haver um efeito positivo moderado.
No entanto, não há certeza sobre esses resultados e eles podem mudar com a adição de mais dados. O metilfenidato IR parece ter pouco ou nenhum efeito na redução dos sintomas de ansiedade e depressão. Existe uma preocupação com os métodos e conflitos de interesse apresentados pelo ensaio e os outros nove estudos avaliados.
Metilfenidato IR versus lítio
O metilfenidato IR pode ter pouco ou nenhum efeito sobre os sintomas de TDAH (avaliado pelos médicos), ou ansiedade e depressão, mas os resultados são incertos.
Nenhum dos estudos incluídos avaliou as mudanças nos sintomas de TDAH avaliados pelos participantes, ou a impressão clínica de gravidade ou melhora nos participantes tratados com metilfenidato IR em comparação com o lítio.
Eventos adversos
Os eventos adversos (efeitos colaterais) foram mal avaliados e relatados em todos os ensaios. No geral, quatro ensaios com 203 participantes que receberam metilfenidato IR e 141 participantes que receberam placebo descreveram a ocorrência de danos.
O uso de metilfenidato IR relatado nesses estudos aumentou o risco de complicações digestivas e perda de apetite. Danos ao coração e à circulação foram relatados, mas de maneira limitada e inconsistente. Um estudo comparando o metilfenidato IR ao lítio relatou cinco e nove eventos adversos, respectivamente.
Foi considerado que quase todos os ensaios clínicos apresentavam preocupações notáveis relacionadas às fontes de financiamento e conflitos de interesse.
Conclusão dos autores
Os autores não encontraram nenhuma evidência certa de que o metilfenidato IR em comparação com placebo ou lítio pode reduzir os sintomas de TDAH em adultos (evidências de baixa e muito baixa certeza).
Os adultos tratados com metilfenidato IR apresentam risco aumentado de danos gastrointestinais e metabólicos em comparação com o placebo.
Os médicos devem considerar se é apropriado prescrever metilfenidato de IR, dada sua eficácia limitada e maior risco de danos. Futuros ECRs devem explorar a eficácia a longo prazo e os riscos do metilfenidato de IR e a influência dos conflitos de interesse nos efeitos relatados.
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O estudo original foi publicado na Cochrane Library
* “Immediate‐release methylphenidate for attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) in adults” – 2021
Autores do estudo: Cândido RCF, Menezes de Padua CA, Golder S, Junqueira DR – 10.1002/14651858.CD013011.pub2