Cientistas apontam como o consumo de certos alimentos reduz o risco de diabetes tipo 2
Dois novos estudos publicados no The BMJ forneceram evidências objetivas e detalhadas de que o consumo de frutas, vegetais e grãos integrais reduz o risco de diabetes mellitus tipo 2 (DM2).
O primeiro estudo analisou dois biomarcadores do consumo de frutas, vitamina C e carotenoides. “Pesquisas anteriores utilizaram tipicamente questionários de frequência alimentar para avaliar a ingestão de frutas e vegetais, esse tipo de estudo é sujeito a erros de medição”, escreveu Nita Forouhi, PhD, da Escola de Medicina Clínica da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Risco de diabetes tipo 2 reduzido
“A circulação no plasma de vitamina C e carotenoides têm sido propostas como biomarcadores objetivos da ingestão de frutas e vegetais, com evidências a partir de estudos observacionais e experimentais”, afirmou o grupo de Forouhi. Eles investigaram amostras de sangue de mais de 22.000 indivíduos e relataram que a vitamina C plasmática estava associada a um risco menor de desenvolver DM2. Eles encontraram uma associação inversa semelhante para carotenoides totais.
Eles categorizaram os indivíduos em cinco grupos com base em uma pontuação composta que incluía a vitamina C e carotenoides. Comparado com o grupo de menor pontuação, o risco de diabetes foi reduzido em 50% no grupo de maior pontuação e em 41% a 23% nos demais grupos.”
De acordo com o estudo, levando em conta que poucas pessoas consomem as porções diárias recomendadas de frutas e legumes, a relação dose-resposta tem implicações importantes. “Nossas descobertas sugerem que o maior consumo de frutas e vegetais está inversamente associado à incidência de diabetes tipo 2, independente do consumo estar abaixo ou acima do limite diário recomendado. A implicação em saúde pública dessa observação é de que a ingestão até mesmo de uma quantidade moderadamente aumentada de frutas e legumes entre populações que normalmente consomem baixos níveis, poderia ajudar a prevenir diabetes tipo 2”, reiteram os pesquisadores.
Os fatores genéticos e metabólicos individuais não fizeram parte da análise
O grupo de Forouhi analisou amostras sanguíneas de 22.833 participantes da coorte do European Prospective Investigation on Cancer an Nutrition (EPIC). As amostras foram coletadas e armazenadas na linha de base. Durante uma média de 9,7 anos de acompanhamento, 9.754 pessoas desenvolveram DM2. As análises foram ajustadas por fatores como idade, sexo, tabagismo e educação. Os limites do estudo incluem que os biomarcadores são frequentemente influenciados por variações genéticas e metabólicas individuais, estas que não foram contabilizadas.
No entanto, o uso de biomarcadores também foi a principal força do estudo, disse Lauri Wright, PhD, diretora do programa de nutrição clínica da Universidade do Norte da Flórida, em Jacksonville, em um e-mail para o MedPage Today. “O uso de biomarcadores é um ponto forte da pesquisa, ele é uma avaliação mais objetiva e precisa da ingestão de frutas e vegetais do que um questionário de frequência alimentar”, disse Wright. “Os estudos aplicados em alimentos foram sujeitos a erros de medição, o que resultou em alguma inconsistência na pesquisa sobre a ligação do consumo de frutas e vegetais com o diabetes”.
Examinando grãos integrais
O segundo estudo analisou com mais atenção o consumo de grãos integrais. Ele se baseou em auto-relatos de questionários alimentares de participantes de coortes diversas, mas além de considerar o consumo total de grãos em geral, também examinou alimentos específicos. Estes incluíam cereais matinais integrais, aveia, pão, arroz integral, farelo adicionado, gérmen de trigo e pipoca.
“Apesar de uma proporção semelhante de farelo e gérmen…os alimentos integrais geralmente contém várias quantidades de fibras, antioxidantes, magnésio e fitoquímicos, que podem resultar em efeitos variados de diferentes tipos de alimentos integrais na saúde cardiometabólica”, diz Qi Sun, MD, do Harvard TH Chan School of Public Health, em Boston.
O estudo mostra que, em comparação com o grupo de menor ingestão, os níveis altos de consumo de alimentos diversos que possuem grãos integrais foram significativamente associados a um menor risco de DM2.
Os pesquisadores também concluíram que, em geral, participantes da categoria mais alta de consumo de grãos integrais apresentaram uma taxa 29% menor de diabetes quando comparados com os da categoria mais baixa. “Essas descobertas fornecem suporte adicional às recomendações atuais que promovem o aumento do consumo de grãos integrais como parte de uma dieta saudável para a prevenção da doença”, relataram Sun e colegas.
_____________________________
Os estudos completos foram publicados no The BMJ: leading general medical journal
* “Association of plasma biomarkers of fruit and vegetable intake with incident type 2 diabetes: EPIC-InterAct case-cohort study in eight European countries” – 2020
Autores do estudo: Ju-Sheng Zheng, Stephen J Sharp, Fumiaki Imamura, Rajiv Chowdhury, Thomas E Gundersen, Marinka Steur, Ivonne Sluijs, Yvonne T van der Schouw, Antonio Agudo, Dagfinn Aune, Aurelio Barricarte, Heiner Boeing, María-Dolores Chirlaque, Miren Dorronsoro, Heinz Freisling, Douae El-Fatouhi, Paul W Franks, Guy Fagherazzi, Sara Grioni, Marc J Gunter, Cecilie Kyrø, Verena Katzke, Tilman Kühn, Kay-Tee Khaw, Nasser Laouali, Giovanna Masala, Peter M Nilsson, Kim Overvad, Salvatore Panico, Keren Papier, J Ramón Quirós, Olov Rolandsson, Daniel Redondo-Sánchez, Fulvio Ricceri, Matthias B Schulze, Annemieke M W Spijkerman, Anne Tjønneland, Tammy Y N Tong, Rosario Tumino, Elisabete Weiderpass, John Danesh, Adam S Butterworth, Elio Riboli, Nita G Forouhi, Nicholas J Wareham – https://doi.org/10.1136/bmj.m2194
* “Intake of whole grain foods and risk of type 2 diabetes: results from three prospective cohort studies” – 2020
Autores do estudo: Yang Hu, Ming Ding, Laura Sampson, Walter C Willett, JoAnn E Manson, Molin Wang, Bernard Rosner, Frank B Hu, Qi Sun – https://doi.org/10.1136/bmj.m2206