É um fato conhecido que a poluição do ar pode causar câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica, enfisema, asma, doença cardíaca e derrame.
Um estudo recente na China estimou que, para pessoas com 75 anos ou mais, existem 1.166 mortes precoces para cada 100.000 – mais de 1%. Mas a maior é questão é se a poluição do ar pode causar danos a memória, demência em geral ou a doença de Alzheimer.
Três estudos de três partes diferentes do mundo sugerem que a poluição do ar pode causar comprometimento cognitivo, demência e doença de Alzheimer.
No primeiro estudo, pesquisadores da China e dos EUA se uniram para analisar dados da China. Eles descobriram que a exposição a longo prazo à poluição do ar está relacionada ao baixo desempenho nos testes verbais e matemáticos. Além disso, o fraco desempenho nas provas verbais foi mais pronunciado nos indivíduos mais velhos, principalmente nos homens e nos menos instruídos.
No segundo estudo, pesquisadores da Inglaterra analisaram 130.978 adultos com idades entre 50 e 79 anos, de 75 consultórios médicos de Londres. Eles descobriram que de 2005 a 2013, 2.181 idosos desta amostra foram diagnosticados com demência: 39% com doença de Alzheimer, 29% com demência vascular e 32% sem diagnóstico específico de demência.
Os adultos que vivem com a maior concentração anual de poluição do ar tiveram um risco superior de demência – 1,4 vezes o risco daqueles com a menor concentração anual. Eles também chegaram a conclusão de que essas associações eram mais consistentes para aqueles que receberam o diagnóstico da doença de Alzheimer.
No terceiro estudo, publicado no início deste ano, pesquisadores dos Estados Unidos, incluindo a Universidade do Sul da Califórnia e a Harvard Medical School, estudaram dados de 998 mulheres com idades entre 73 e 87 anos que fizeram testes cognitivos e exames de ressonância magnética.
Eles descobriram que as mulheres que foram expostas a concentrações mais altas de poluição do ar nos três anos anteriores mostraram duas diferenças em comparação com aquelas que foram expostas a menos poluição do ar. Cognitivamente, aqueles expostos a mais poluição apresentaram maiores quedas no aprendizado de uma lista de palavras. Anatomicamente, elas mostraram mais atrofia (encolhimento) nas áreas do cérebro que geralmente encolhem devido à doença de Alzheimer.
É importante ressaltar que, nos três estudos, os pesquisadores controlaram todos os outros fatores possíveis que achavam que poderiam fazer diferença. Por exemplo, neste terceiro estudo eles avaliaram: fatores sociodemográficos (idade, região geográfica, raça/etnia, educação, renda), estilo de vida (tabagismo, álcool, atividade física), situação de emprego, características clínicas (diabetes, colesterol alto, hipertensão, doenças cardiovasculares, terapia hormonal), e doença cerebrovascular medida por RM.
O fato de três grupos diferentes analisarem dados de três continentes diferentes e chegarem a conclusões semelhantes não pode ser devido apenas ao acaso.
Portanto, é possível afirmar que níveis mais altos de poluição do ar estão associados a um maior risco de declínio cognitivo, demência em geral e doença de Alzheimer em particular.
Contudo, não é que dizer que altos níveis de poluição do ar vão causam declínio cognitivo, demência e doença de Alzheimer. A poluição do ar pode causar a doença de Alzheimer, e muitos pesquisadores forneceram possíveis mecanismos sobre como isso pode acontecer.
Também é possível que a poluição do ar possa estar ligada a algum fator ainda não identificado que explica a associação. Por exemplo, já está bem estabelecido que algumas doenças virais estão associadas à doença de Alzheimer. Assim como está bem estabelecido que é mais provável que as doenças virais sejam transmitidas quando as pessoas estão reunidas em ambientes fechados.
Pode ser simplesmente que onde há maior poluição é mais provável que as pessoas se reúnam, fechem as janelas e transmitam o vírus entre si. O novo vírus que eles adquirem pode ser a causa real do aumento do risco de doença de Alzheimer. Isso é apenas especulação – apenas um exemplo de como uma associação real não é a mesma coisa que evidência de causalidade.
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O estudo original foi publicado no Brain – A Journal of Neurology
* “Particulate matter and episodic memory decline mediated by early neuroanatomic biomarkers of Alzheimer’s disease” – 2020
Autores do estudo: Diana Younan, Andrew J Petkus, Keith F Widaman, Xinhui Wang, Ramon Casanova, Mark A Espeland, Margaret Gatz, Victor W Henderson, JoAnn E Manson, Stephen R Rapp, Bonnie C Sachs, Marc L Serre, Sarah A Gaussoin, Ryan Barnard, Santiago Saldana, William Vizuete, Daniel P Beavers, Joel A Salinas, Helena C Chui, Susan M Resnick, Sally A Shumaker, Jiu-Chiuan Chen – 10.1093/brain/awz348
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