Um grande estudo prospectivo na Europa mostrou que quase um em cada quatro pacientes com COVID-19 que teve disfunção olfatória, não recuperou o olfato em 60 dias depois de perdê-lo.
Entre quase 2.600 pessoas que tiveram confirmada de SARS-CoV-2, a permanência de disfunção olfatória relatada pelo paciente foi de 85,9% em casos leves de COVID-19, 4,5% em casos moderados e 6,9% em casos graves a críticos, relatou Jerome Lechien , MD, PhD, da Universidade Paris Saclay, na França, e coautores para o Journal of Internal Medicine.
Aproximadamente 24% dos pacientes não se recuperaram da perda olfativa em 60 dias depois do início da disfunção.
Quando uma amostra pequena de pacientes foi analisada através de testes olfatórios objetivos, 15,3% ainda apresentavam sinais de deficiência aos 60 dias e 4,7% não conseguiram recuperar o olfato em 6 meses.
“A disfunção olfatória é mais prevalente nas formas COVID-19 leves do que nas formas moderadas a críticas, e 95% dos pacientes recuperam o olfato 6 meses após a infecção”, relatou Lechien por um comunicado.
O estudo contou com 2.581 pacientes ambulatoriais e hospitalizados com COVID-19 localizados em 18 hospitais europeus no período de 22 de março a 3 de junho de 2020. Ao total, 2.194 pacientes (85,0%) tinham a doença leve, 110 (4,3%) tinham a doença moderada e 277 ( 10,7%) tinham COVID-19 de forma grave a crítica. Pacientes leves, moderados, graves e críticos foram definidos utilizando a pontuação de gravidade COVID-19 da OMS.
A maioria dos participantes do estudo eram mulheres (62,9%), mas essa proporção foi maior no grupo de pacientes leves do que nos demais (P=0,001). Os pacientes com COVID-19 leve tinham uma idade mediana de 42 anos, as idades médias foram de 69 para COVID-19 moderado e 72 para doença em forma grave e crítica. Aproximadamente 84% da amostra era caucasiana.
Os pacientes responderam questionários com perguntas sobre o olfato e o paladar com base no componente de cheiro e sabor da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição do CDC. A duração média da disfunção olfatória descrita pelo participante foi de 21,6 dias.
De todos os participantes no estudo, 233 completaram avaliações olfatórias objetivas, incluindo 181com COVID-19 leve e 52 com COVID-19 moderado a crítico. Análises objetivas mostraram hiposmia ou anosmia em 54,7% dos pacientes com doença leve e 36,6% dos pacientes com doença moderada a crítica (P=0,001).
Os valores medianos no teste Sniffin Sticks – um método para avaliar o olfato utilizando 16 canetas olfativas – foram substancialmente menores no grupo de pacientes leves do que em pacientes com COVID-19 moderado a crítico (P=0,001).
Os valores medianos da linha de base dos testes Sniffin Sticks melhoraram consideravelmente depois de 30 e 60 dias de acompanhamento (P=0,001). Maior severidade basal de avaliações olfativas objetivas previu fortemente a perda persistente de 2 meses (P<0,001).
A hipótese principal subjacente à maior prevalência de anosmia em COVID-19 leve, segundo Lechien e colegas, é que os casos mais amenos desenvolvem uma resposta imune local mais consistente à infecção. A inflamação relacionada a essa resposta, contudo, pode levar a um comprometimento maior das células olfativas, destacaram os autores.
A disfunção olfatória no COVID-19 é tão comum que fortalece a necessidade de médicos de cuidados primários, especialistas em otorrinolaringologia e neurologistas para direcionar os pacientes sobre a probabilidade de recuperação e identificar pessoas que possuem risco de disfunção olfatória persistente, observaram os pesquisadores. “Considerando os dados subjetivos e objetivos, podemos sugerir que a taxa de recuperação de 60 dias varia de 75% a 85%”, escreveram.
O estudo conta com diversas limitações, incluindo a falta de exame clínico olfatório ou de imagem no começo da doença. Vários pacientes graves a críticos receberam sonda nasogástrica, o que causou atraso na avaliação e pode ter influenciado alguns resultados.
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O estudo original foi publicado no Journal of Internal Medicine
* “Prevalence and 6‐month recovery of olfactory dysfunction: a multicentre study of 1363 COVID‐19 patients” – 2020
Autores do estudo: J. R. Lechien, C. M. Chiesa‐Estomba, E. Beckers, V. Mustin, M. Ducarme, F. Journe, A. Marchant, L. Jouffe, M. R. Barillari, G. Cammaroto, M. P. Circiu S. Hans, S. Saussez – doi.org/10.1111/joim.13209
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