Conhecimento Médico

Corticosteroides podem oferecer risco a pacientes com doença falciforme

Pacientes com doença falciforme (DF) têm um risco aumentado de crises vaso-oclusivas (CVO) após exposição a corticosteroides, de acordo com um estudo de base populacional francês.

Aqueles que tomam corticosteroides sistêmicos eram quase quatro vezes mais propensos a serem hospitalizados por um CVO um mês após a exposição, relataram Ondine Walter, MD, do Hospital Universitário de Toulouse, na França, e colegas na revista Blood.

A terapia com hidroxiureia atenuou um pouco esse risco, pois os pacientes tratados com a droga quando expostos a esteroides eram menos propensos a serem hospitalizados em comparação com aqueles que não estavam em terapia.

Ao explicar o raciocínio por trás de seu estudo, Walter e sua equipe observaram que, embora se suspeite que a exposição a corticosteroides sistêmicos aumente a incidência de CVO, isso não foi medido em estudos comparativos e ainda é um assunto de debate.

“Portanto, dada a falta de recomendações claras sobre a prescrição de corticosteroides em pacientes com DF, os corticosteroides ainda são amplamente prescritos nessa população”, escreveram.

“Eventos vaso-oclusivos e hospitalizações relacionadas parecem seguir a prescrição de corticosteroides rapidamente. Essa evidência sugere que os corticosteroides podem estar contribuindo para os eventos e devem ser evitados o máximo possível nesses pacientes”, disse Walter em um comunicado à imprensa.

Detalhes do estudo

Walter e colegas usaram dados do banco de dados do seguro de saúde nacional francês, do qual identificaram 14.166 adultos e crianças com DF que foram hospitalizados pelo menos uma vez por CVO, representando um total de 103.204 hospitalizações (0,78 CVO por paciente-ano) de 2010 a 2018. Cerca de 13% das internações exigiram internação em unidade de terapia intensiva. A duração mediana de internação para CVO foi de 3 dias.

Após as exclusões, 5.151 pacientes foram incluídos na análise, dos quais 45% foram expostos pelo menos uma vez a corticosteroides sistêmicos durante o período do estudo. A exposição a corticosteroides foi definida como tendo sido prescrito o medicamento dentro de 28 dias de um CVO, enquanto a exposição à hidroxiureia foi definida como tendo sido prescrito o medicamento pelo menos uma vez durante os 3 meses anteriores a um CVO.

CVOs e hospitalizações relacionadas seguiram a exposição aos corticosteroides com bastante rapidez – uma média de 5 dias.

Quando discriminado por idade e sexo, o risco de CVO permaneceu alto entre os subgrupos, com aORs de 2,8 em crianças e 4,5 em adultos, e 6,5 em mulheres e 2,1 em homens.

Walter e equipe sugeriram que a diferença de risco entre homens e mulheres não estava relacionada a questões ginecológicas ou obstétricas, uma vez que também foi observada em pacientes com menos de 15 anos. Eles também observaram que as mulheres eram mais propensas a receber prescrição de corticosteroides e tinham internações hospitalares mais frequentes do que os homens.

“De acordo, alguns estudos descobriram uma maior propensão a desenvolver CVOs em mulheres do que em homens”, escreveram. “Além disso, os efeitos farmacológicos dos corticosteroides diferem de acordo com o sexo, destacando a necessidade de estudos para explorar a hipótese fisiopatológica subjacente a esses achados”.

Os autores destacaram que seu estudo foi restrito a pacientes na França, limitando sua generalização para pacientes com DF em todo o mundo. Eles também observaram que o uso de corticosteroides foi medido de acordo com os dados de dispensação, que podem diferir da ingestão pelos pacientes.

“No entanto, os corticosteroides sistêmicos são prescritos para condições agudas”, escreveram eles. “Consequentemente, é improvável um tempo significativo não medido desde a dispensação até a ingestão”.

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O estudo original foi publicado no Blood

“Risk of vaso-occlusive episode after exposure to corticosteroids in patients with sickle cell disease” – 2022

Autores do estudo: Ondine Walter, Pierre Cougoul, Julien Maquet, Pablo Bartolucci, Maryse Lapeyre-Mestre, Margaux Lafaurie, Guillaume Moulis – Estudo

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