Suicídio é maior em pessoas com transtorno do espectro do autismo

Um estudo dinamarquês descobriu que pessoas que têm o transtorno do espectro do autismo (TEA) possuem um risco elevado de suicídio.

Um estudo de coorte que contou com mais de 35.000 indivíduos com autismo percebeu uma taxa três vezes maior de tentativa de suicídio (razão da taxa de incidência ajustada [aIRR] 3,19, IC 95% 2,93-3,46) e suicídio de fato (aIRR 3,75, IC 95% 2,85 -4,92) quanto comparados  com pessoas que não tem autismo, disse Kairi Kõlves, PhD, da Universidade de Griffith em Brisbane, na Autralia, e colegas no JAMA Network Open.

Mesmo que as taxas mais altas de tentativas de suicídio tenham sido vistas em todas as faixas etárias, as mulheres com autismo parecem ser afetadas de maneira desproporcional, com uma taxa quatro vezes maior de tentativas de suicídio quando são comparadas com os homens (aIRR 4,41, IC 95% 3,74-5,19).

As mulheres também obtiveram uma taxa significativamente maior de suicídios consumados em comparação com os homens com autismo (aIRR 1,41, IC 95% 1,39-1,43).

Além disso, a presença de comorbidades aumentou a quantidade de tentativas de suicídio. Comparando com pessoas que têm autismo e não possuíam nenhum transtorno psiquiátrico, os que tinham problemas psiquiátricos apresentaram uma taxa de tentativas de suicídio nove vezes maior (aIRR 9,27, IC 95% 8,51-10,10).

Colocando isso em perspectiva, mais de 90% das pessoas com autismo que tentaram ou cometeram o suicídio tinham uma comorbidade psiquiátrica.

A comorbidade psiquiátrica mais comum nessa população foi transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (32,7%), seguido por transtornos de ansiedade, dissociativos, relacionados ao estresse e somatoformes (27,5%) e transtornos afetivos (16,5%).

Por outro lado, as pessoas que tiveram um diagnóstico único de transtorno do espectro do autismo viram apenas uma taxa elevada de 33% em tentativas de suicídio (aIRR 1,33, IC 95% 0,99-1,78).

“Fatores que foram identificados como protetores contra tentativa de suicídio na população em geral, como idade avançada e nível educacional maior, não foram localizados para ter essa associação entre indivíduos com TEA [transtorno do espectro do autismo], e alguns fatores, como ser casado ou coabitar e trabalhar, foram associados a serem menos protetores entre aqueles com TEA”, destacaram Kõlves e colegas.

Algumas possíveis explicações por trás dessa associação podem decorrer do isolamento social associado a um acesso mais difícil aos cuidados de saúde, afirmaram os pesquisadores.

Características do estudo

Para realizar a avaliação, os autores utilizaram informações retiradas do registro nacional de mais de 6,5 milhões de pessoas com 10 anos ou mais da Dinamarca no período de 1995 a 2016.

Em um comentário adicional, Mikle South, PhD, da Universidade Brigham Young em Provo, Utah, e colegas disseram que os médicos podem ser mais rápidos em ignorar os sintomas de depressão em seus pacientes com autismo, perdendo assim a oportunidade de tratá-los.

Contudo, eles sugeriram inclusive, que o inverso também é comum – que os médicos acostumados a diagnosticar transtornos do humor podem, por sua vez, perder os sintomas do transtorno do espectro do autismo.

Além disso, eles aconselharam que as pessoas com autismo podem fazer certo esforço para “camuflar” seus traços autistas na esperança de conseguirem se adaptar, e isso provavelmente é “exaustivo e está associado a problemas de saúde mental”.

Uma limitação deste estudo foi a falta de dados sobre as taxas de autolesões não suicidas (NSSI) nessa população, apontou o grupo de South.

“A NSSI é comum no autismo, mas costuma ter ligação com comportamentos repetitivos sem intenção suicida, como bater cabeça para aliviar o estresse”, afirmaram. “Esta suposição pode ser imprecisa e perigosa, e uma investigação cuidadosa da intenção de causar dano é fundamental com pacientes autistas que estão em risco de suicídio”.

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O estudo original foi publicado no JAMA Network Open

* “Assessment of Suicidal Behaviors Among Individuals With Autism Spectrum Disorder in Denmark” – 2021

Autores do estudo: Kairi Kõlves, PhD, Cecilie Fitzgerald, BM2, Merete Nordentoft, DMSc, Stephen James Wood, PhD, Annette Erlangsen, PhD – 10.1001/jamanetworkopen.2020.33565

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