O consumo da maconha foi legalizado para uso medicinal ou recreativo em diversos lugares e, um número crescente de americanos (EUA) – incluindo idosos – está começando a fazer uso desta droga popular.
De fato, a porcentagem de pessoas com 65 anos ou mais que afirmaram usar a cannabis de alguma forma dobrou entre os anos de 2015 e 2018, relatou um estudo recente.
Comparado aos medicamentos tradicionais, as consequências para a saúde do uso da substância ainda não foram tão bem estudadas.
Contudo, evidências convergentes sugerem que a droga pode acabar sendo prejudicial ao coração, de acordo com um artigo de revisão no JACC: Journal of the American College of Cardiology. Atualmente, mais de dois milhões de americanos com doenças cardíacas utilizaram ou utilizam a cannabis, estimam os autores.
Derivada das plantas cannabis sativas ou cannabis indica, a maconha é mais frequentemente fumada em cigarros (feitos artesanalmente pelo próprio usuário) ou em um cachimbo. As pessoas também consomem a droga em forma de cigarros eletrônicos (vape), a consomem em alimentos ou doces (chamados comestíveis) ou como uma tintura.
Muitos usuários assumem que fumar cigarros de maconha ou utilizar os eletrônicos não é tão perigoso quanto fumar cigarros tradicionais, diz o co-autor do estudo, Dr. Muthiah Vaduganathan, cardiologista do Brigham and Women’s Hospital, afiliado a Harvard.
“Mas quando as pessoas fumam tabaco, elas fumam em intervalos pequenos e menos frequentes. Por outro lado, o consumo de maconha envolve grandes tragadas com maior retenção de ar”, reitera ele.
Portanto, fumar maconha pode depositar tanto ou mais toxinas químicas nos pulmões quando as pessoas fazem uso, acrescenta. E utilizar o vape para qualquer substância pode ser perigoso: milhares de pessoas nos Estados Unidos sofreram lesões pulmonares graves usando cigarros eletrônicos. No momento da publicação do estudo, 64 desses pacientes faleceram.
A maconha pode fazer com que o coração bata mais rápido, além de aumentar a pressão arterial. Isso pode ser perigoso para pessoas que têm alguma doença cardíaca.
O risco de ataque cardíaco é várias vezes maior no momento após o consumo da substância do que seria normalmente, sugerem algumas pesquisas. Outros estudos descobriram uma relação entre o uso da droga e a fibrilação arterial, o distúrbio mais comum do ritmo cardíaco. Além disso, uma pesquisa também sugere que fumar maconha pode aumentar o risco de derrame.
A maioria das evidências sobre a cannabis são baseadas em estudos de pessoas que a consumiram. Mas mesmo se você ingerir a droga por outros métodos, como comestíveis ou tinturas, ela ainda pode afetar o sistema cardiovascular.
A planta contém mais de 100 componentes químicos exclusivos classificados como canabinoides. Os dois mais prevalentes são o tetra-hidrocanabinol (ou THC, que é o responsável pelos efeitos alucinógenos) e o canabidiol (ou CBD).
Esses compostos se ligam a receptores específicos no cérebro. “Mas os receptores canabinoides são encontrados em todo o corpo, incluindo células cardíacas, células adiposas e plaquetas e células do sangue envolvidas na formação de coágulos”, acrescenta o Dr. Vaduganathan.
Os canabinoides podem afetar vários medicamentos usados para tratar ou prevenir doenças cardíacas, incluindo os que tratam pressão arterial, estatinas para abaixar o colesterol e aqueles utilizados para distúrbios do ritmo cardíaco, conforme estudo detalhado publicado no JACC.
As pessoas fazem uso da maconha por inúmeras razões, incluindo a dor crônica, afirma o Dr. Vaduganathan. “Na minha clínica, pergunto aos pacientes se eles fazem uso da substância e, a maioria não têm problemas em debater sobre o assunto”, diz ele.
Embora as evidências sobre os possíveis danos da maconha sejam limitadas, as pessoas com doenças cardíacas precisam ser cautelosas quanto ao uso da droga, ressalta o médico.
No entanto, os conselhos que os profissionais da saúde oferecem devem ser individualizados. Por exemplo, os riscos relacionados ao coração podem ser menos relevantes para as pessoas que usam a substância no final da vida para fins paliativos, acrescenta ele.
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O estudo original foi publicado no JACC: Journal of the American College of Cardiology -2020
* “Marijuana Use in Patients With Cardiovascular Disease: JACC Review Topic of the Week”
Autores do estudo:
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