Apesar de sua presença onipresente, os efeitos do tratamento com placebo mantém opiniões diversas na biomedicina. O objetivo do estudo foi focar na eficácia desse tipo de intervenção na dor crônica em três estruturas distintas. As condições que foram especificadas não modificam diferencialmente os resultados do placebo. Teorias psicológicas, clínicas e neurológicas dos efeitos do placebo foram examinadas.
Na dor crônica, a expectativa consciente não prevê de os efeitos de forma confiável. Um bom relacionamento entre médico e paciente pode ser favorável aos efeitos do placebo.
A pesquisa destaca a “codificação preditiva” e o “cérebro bayesiano” como modelos emergentes derivados da neurobiologia computacional que oferecem uma estrutura unificada para explicar as evidências heterogêneas nos placebos. Esses modelos invertem o dogma do cérebro como um órgão impulsionado por estímulos.
No código preditivo/cérebro bayesiano, tanto a dor crônica (modulada significativamente pela sensibilização central) quanto seu alívio através do tratamento com placebo são explicados como vieses bayesiano codificados centralmente, principalmente inconscientes.
O estudo avaliou sete maneiras pelas quais o tratamento é usado na prática clínica, na pesquisa e suas implicações bioéticas. Dessa maneira, é possível mostrar que os efeitos do placebo possuem evidências clinicamente relevantes e potencialmente éticas para aliviar a dor crônica.
Os placebos ocupam algumas das áreas mais prestigiadas da biomedicina: os controles através dele em ensaios clínicos randomizados (ECR) são uma ferramenta indispensável para uma avaliação rigorosa de medicamentos e procedimentos. Eles traçam uma linha: o tratamento deve mostrar superioridade sobre o placebo ou ele falha.
Porém, pacientes com sintomas subjetivamente definidos, atribuídos a tratamentos simulados em ensaios clínicos randomizados, geralmente melhoram em uma magnitude que às vezes pode imitar intervenções conhecidas por serem eficazes. Embora essa melhora seja intrigante, registrá-la cientificamente pode se tornar um desafio.
Além disso, eles foram associados a enganos, truques e trapaças. Os placebos são tradicionalmente pegos em um dilema que os colocam como benéfico/poderoso ou antiético/charlatanismo.
Mudanças recentes na teoria e nas evidências oferecem uma oportunidade de reavaliar o papel dos efeitos dele na medicina. O surgimento de uma família de teorias inter-relacionadas e investigações empíricas de percepção e aprendizado, forneceu novas ideias sobre o efeito do placebo.
Ao mesmo tempo, dados emergentes sugerem que as teorias psicológicas dominantes dos placebos são insuficientes para explicar os seus efeitos no tratamento da dor crônica.
Atualmente, pesquisas desafiaram a presunção axiomática na biomedicina de que a indução de efeitos placebo requer engano na prática clínica ou ocultação em ECRs. Em uma série recente de estudos de “prova de conceito” com placebo aberto, os pacientes que receberam a medicação subsequentemente alcançaram alívio significativo dos sintomas.
O estudo se concentra em três aspectos principais dos placebos para dor crônica. Primeiramente houve a análise do tratamento em três condições diferentes: ECRs duplos cegos, experimentos enganosos com placebo e OLP.
Em segundo lugar, ocorreu a investigação de diversas teorias psicológicas e clínicas dos efeitos do placebo. No contexto da sensibilização central, o argumento foi de que a “codificação preditiva” e seu “cérebro bayesiano” corolário oferecem uma estrutura neurobiológica unificada para elucidar os efeitos na dor crônica.
Por último foram examinadas sete maneiras pelas quais os placebos devem ou não ser utilizados na prática clínica e de pesquisa.
Embora as respostas ao placebo nos ensaios clínicos randomizados ocasionalmente produzam grandes efeitos, em média elas oferecem alterações modestas a moderadas que são, no entanto, clinicamente significativas. A relação entre médico e paciente também pode ajudar a aumentar os resultados dos tratamentos com placebo.
Os efeitos do placebo na dor crônica podem ser entendidos como processos de previsão bayesiana inconsciente envolvidos por pistas informais inconscientes e conscientes que surgem quando os pacientes participam dos rituais e comportamentos da medicina.
Assim como a dor crônica envolve componentes importantes da sensibilização central ou dos vieses sensoriais, de maneira inversa paralela, os efeitos do placebo envolvem vieses sensoriais na direção oposta.
É importante ressaltar que as informações encontradas são provisórias e futuramente precisarão de correção à medida que a descoberta científica avança.
A medicina deve abandonar seu preconceito histórico com os efeitos do placebo e considerá-los como um componente intrínseco e valioso dos cuidados clínicos. São necessárias mais pesquisas para entender como os profissionais podem utilizar de maneira ideal e ética o tratamento para aliviar a dor.
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O estudo original foi publicado no The BMJ
* “Placebos in chronic pain: evidence, theory, ethics, and use in clinical practice” – 2020
Autores do estudo: Ted J Kaptchuk, Christopher C Hemond, Franklin G Miller – doi.org/10.1136/bmj.m1668
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