Vacina contra pneumonia mais barata e mais eficaz é testada em seres humanos!

Uma nova vacina contra pneumonia, que é mais barata e mais eficaz do que a atualmente usada no Brasil, está sendo testada em pacientes humanos. Desenvolvida por pesquisadores do Instituto Butantan (Brasil) e do Hospital Infantil de Boston, parte da Harvard Medical School (EUA), a inovação é capaz de fornecer proteção contra todos os sorotipos da bactéria Streptococcus pneumoniae.

Uma nova vacina contra pneumonia

“Escolhemos uma estratégia diferente para ativar a resposta imune. Em vez de direcionar os polissacarídeos presentes na cápsula bacteriana, como fazem as vacinas atualmente disponíveis, optamos por proteínas comuns a todos os sorotipos do microorganismo”, disse Luciana Cezar de Cerqueira Leite, uma pesquisadora do Laboratório Especial de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan.

A pesquisa inicial foi liderada por Cerqueira Leite e apoiada pela Fundação de Pesquisa de São Paulo – FAPESP. Os ensaios clínicos de fase I e II foram realizados na África e coordenados nos EUA pela equipe de Harvard, com o apoio da Fundação Bill & Melinda Gates e do Programa de Tecnologias Apropriadas em Saúde (PATH), uma organização sem fins lucrativos com sede em Seattle, dedicada ao desenvolvimento de inovações. que salvam vidas e melhoram a saúde.

“Foram necessários mais de dez anos de pesquisa para chegar a essa vacina celular. Primeiro, investigamos proteínas que poderiam ser usadas como alvos. A ideia de desenvolver uma vacina celular ocorreu-nos no caminho. Projetamos o processo de produção e mudamos o adjuvante [um agente usado em conjunto com o antígeno da vacina para aumentar o hospedeiro, uma resposta imunológica], bem como a via de administração. Inicialmente, decidimos produzir uma vacina administrada por via intranasal, mas depois percebemos que o produto seria mais eficiente se fosse administrado por injeção intramuscular”, afirmou Cerqueira Leite.

Polivalente

Estima-se que existam cerca de 90 sorotipos de S. pneumoniae em todo o mundo. Além da pneumonia, a bactéria causa meningite, otite e sinusite, entre outras doenças. Os sorotipos são definidos com base na combinação de polissacarídeos presentes na cápsula dos microrganismos. Nas vacinas convencionais, essa combinação determina o antígeno a ser introduzido no organismo para estimular a produção de anticorpos. A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan desencadeia uma resposta imune, independentemente do sorotipo bacteriano.

“Cultivamos a bactéria sem a cápsula no laboratório e usamos uma técnica especial para matá-la sem desintegrá-la. Portanto, a bactéria inativada pode ser administrada como uma vacina. Também identificamos proteínas imunogênicas comuns a todos os sorotipos de S. pneumoniae”, Cerqueira Leite.

A Dra Luciana Leite e colaboradores enfatizaram a importância de desenvolver uma vacina contra pneumonia acessível, eficaz contra todos os sorotipos de S. pneumoniae.

“No caso específico da pneumonia, insistir na inclusão de novos sorotipos em vacinas conjugadas apenas leva a uma maior complexidade e a custos de produção mais altos, tornando as vacinas já caras ainda menos acessíveis para países em desenvolvimento como o Brasil”, afirmou a Dra Luciana.

As vacinas contra pneumococos atualmente disponíveis são eficazes contra dez a 13 sorotipos, acrescentou ela. Uma versão não conjugada abrange 23 sorotipos, mas é usada principalmente para imunizar adultos, pois não é eficaz em crianças.

“A primeira geração de vacinas conjugadas foi eficaz contra os sete sorotipos mais prevalentes na Europa e nos EUA [7-valente]. No entanto, como a prevalência variava de uma região para outra, no Brasil não foi capaz de fornecer uma cobertura muito boa, apenas cerca de 60%. Com o passar do tempo, tornou-se possível combinar mais cepas e, eventualmente, foram produzidas vacinas de 10 e 13 valentes, mas há um problema com essa estratégia. Quando você tira sorotipos específicos da circulação, outras cepas [com sorotipos diferentes] emergem naturalmente e as vacinas existentes perdem sua eficácia. Isso é conhecido como substituição de sorotipos”, disse a Dra Luciana.

Além de ser mais abrangente que as vacinas atuais, a vacina celular desenvolvida pelo Instituto Butantan não é vulnerável ao problema de substituição de sorotipos. O preço é outra vantagem, segundo Cerqueira Leite. “É difícil dizer exatamente quanto custará a vacina antes mesmo de ser aprovada e produzida, mas estimamos cerca de dois dólares. A vacina polissacarídica [13-valente] atualmente custa ao cidadão que usa uma clínica privada cerca de 60 dólares. Serviços públicos [administrada sob a égide do SUS, sistema nacional de saúde] paga 15 dólares”, afirmou.

O preço é mais baixo porque o processo de produção é menos complexo. “Para fazer a vacina 13-valente, cada um dos 13 sorotipos diferentes deve ser cultivado separadamente e purificado para obter os polissacarídeos. Além disso, por ser uma vacina conjugada, é necessário produzir uma reação entre o polissacarídeo e uma proteína transportadora, são várias etapas. É um processo trabalhoso, com várias etapas e leva quase dois anos”, afirmou ela.

A nova vacina pode ser produzida em aproximadamente dois meses, segundo Cerqueira Leite.

Os ensaios clínicos de fase I e II foram concluídos, analisando a segurança e a toxicidade e validando a imunogenicidade, respectivamente. “Planejamos realizar outro estudo de fase II nos EUA. Este é o estágio em que você compara o tipo de resposta imune produzida nas populações de diferentes países”, concluiu a Dra Luciana.

Os ensaios clínicos de fase III envolvem um número maior de pessoas e testam a eficácia da vacina comparando um grupo imunizado com um grupo que recebe um placebo. Um estudo de fase III ainda não foi agendado para a nova vacina contra pneumonia.

 

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O artigo completo foi publicado na revista Expert Review of Vaccines.

* “The long search for a serotype independent pneumococcal vaccine” -2020.

Autores do estudo: T.R. Converso, L. Assoni, G.O. André, M. Darrieux, Lucianna C. Leite – 10.1080/14760584.2020.1711055

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